Transfotografia
Rute Rosas, Junho 2015
A arte é de facto uma forma única, espantosa, de tornar simples e claras
coisas extremamente complexas. Carlos Paredes (1925 – 2004)
Se é do conhecimento geral que Fotografia é uma técnica através da qual se desenha com a luz – basta termos em consideração a etimologia da palavra -, será fundamental considerar outros comprometimentos na construção da imagem para além deste princípio básico: focagem, distância focal, profundidade de campo, cor, superfície, contraste ou velocidade.
O grau de exigência de conhecimentos, assim como a complexidade da manipulação, aliada à quantidade de meios, processos e mecanismos que ampliam possibilidades de utilização da Fotografia desde a sua criação até à atualidade – do analógico ao digital - tem servido aos mais diversos fins e utilizações, tornando-se simultaneamente acessível a qualquer um de nós.
Em modo de apresentação sucinta o trabalho que Limamil tem vindo a desenvolver ao longo dos últimos 25 anos resulta de um profundo conhecimento desta técnica desde as suas origens e de uma paixão quase obsessiva que o fez ultrapassar e a bengala da sedução para um modus operandi que se baseia na criação plástica através desta técnica por via de uma transgressão consciente.
Em conversas tidas com o autor percebemos o seu interesse pelos dispositivos e mecanismos da fotografia – coleciona máquinas e livros da especialidade cuidando-os com afeto e tratando-os como joias. O seu encantamento pelo passado “ainda não havia eletricidade e portanto as máquinas projetavam luz através de lamparinas a petróleo” é alimentado pela evolução técnica e qualidade artística de uma enorme diversidade de autores – fotógrafos e artistas plásticos.
Assim nasce o projeto artístico Transfotografia, alicerçado à ideia de que a imagem impressa não tem cabimento, mas que resulta em objetos escultóricos que se baseiam estruturalmente nos princípios fundamentais da fotografia e nos fenómenos históricos, físicos, químicos e mecânicos. Estes objetos não são imagens mas podem criar, produzir ou mesmo destruir a imagem impressa.
As suas esculturas sugerem “circuitos industriais ou unidades fabris” sem preocupação com uma estrutura narrativa ou mesmo cronológica.
São mecanismos que nos convidam a uma ação performativa e de uma riqueza aparentemente simples.
Rute Rosas
Porto, Junho de 2015